Agora a ficha caiu.

Lembro do exato momento em que me dei conta de que havia me tornado um quadrinista, até porque faz poucos dias…

Era o final do maior evento de quadrinhos que já participei. O quarto dia da Comic Con Experience chegava ao fim e todos os artistas desmontavam suas mesas, visivelmente cansados, mas com sorrisos de vitória no rosto. Tipo nos filmes, quando uma batalha épica acaba e você faz parte do time vencedor.

Bom, estava arrumando a mala quando um grande artista, o qual sou muito fã, veio com um livro meu pra autografar. Já rabisquei para outros grandes artistas, mas todos são amigos meus. Neste caso, nunca havíamos trocado mais que um “oi”. Conversamos um pouco e ele se foi. Não sei se a Sra Coala ou meus vizinhos repararam na minha introspecção e nos olhos marejados, mas aquele foi meu momento mágico. Viajei no tempo, quando eu era um pequeno coala rabiscando as contracapas dos livros, passando por meu emprego como chargista num jornal aos 15 anos, na desistência ao constatar o quanto era difícil fazer quadrinhos no Brasil, aos trabalhos em publicidade, aos anos importantíssimos como bombeiro e às escolhas mais difíceis da minha vida… Permitam-me um exagero, mas foi minha redenção.

Faz pouco mais de 3 anos que larguei tudo pra tentar viver de “historinhas”, já sabendo o quanto seria difícil, mas disposto a dar o melhor de mim e não sair desta vida sem tentar mais uma vez. Não sei se foram as patadas ou as decepções do começo, mas nunca me senti um quadrinista de verdade. Eu faço webcomics, sou dessa turma que “desenha de graça” na internet, sou outra coisa. Mesmo depois de imprimir meu primeiro livrinho, mesmo depois dO Monstro, mesmo depois do troféu HQMix, ainda sentia que faltava algo.

Pois é, naquele momento encontrei o que faltava. E é tão simples… mas é algo que nada, nem ninguém, pode te dar, pois tem que vir de você, das profundezas do seu ser. É a percepção. Quando todos os seus sentidos, emoções e crenças chegam a uma única resposta. Sim, eu faço quadrinhos! Quero dizer, ainda faço webcomics, mas fazer webcomics não é mais outra coisa. E é demais perceber que de alguma maneira fiz parte dessa mudança, dessa aceitação. Não tenho palavras pra descrever o sentimento de ver a galera “das internets” lado a lado com renomados artistas, inclusive internacionais. Vendendo muito, trocando ideias, fazendo novas amizades… Tudo junto e misturado. A ficha caiu. Pensei em tudo que os quadrinhos me proporcionaram nos últimos anos, tantas histórias bonitas, tantos sentimentos, tantas lágrimas, tantos amigos (alguns quase família), tantos Monstros…

Faço parte de uma nova geração (apesar dos meus 36 anos), que está transformando a maneira de fazer quadrinhos. Escrevemos e desenhamos exatamente o que queremos sem se preocupar com o “mercado”;  conquistamos e interagimos com um novo público, mais participativo e cúmplice; produzimos e vendemos milhares de HQs sem precisar de editoras e distribuidoras; não competimos nem nos dividimos, somamos. E o legal é ver cada vez mais grandes artistas buscando e experimentando isso.

As coisas estão mudando pra melhor, e não é graças às webcomics. É graças a um todo. Aos grandes artistas que levam o nome do Brasil lá pra fora, aos que se arriscam, aos que se reinventam, aos editores visionários, às editoras corajosas, aos heróis dedicados que ralam para fazer eventos de quadrinhos (grandes e pequenos), publicações e premiações, aos artistas que continuam tentando mesmo com tantas dificuldades e a todos os apaixonados pela Nona Arte, pois a paixão é o que move tudo.

Não tenha medo de tentar (mas tenha paciência) e lembre-se que é muito mais fácil e divertido caminharmos juntos, mesmo porque, todos estamos indo na mesma direção.

Bora fazer quadrinhos!

coala_ccex





Mentirinhas #740

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Cada vez que um leitor pede o desenho da Segunda num autógrafo um anjo perde as asas.


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